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Encontro debate cenário, perspectivas e alternativas para o mercado de trigo e soja

O cenário, as perspectivas e alternativas das culturas de trigo e soja foram tema do encontro promovido pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), na tarde desta terça-feira (29/8), no auditório da Casa da Ocergs, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.

Na abertura do evento, o presidente da FecoAgro/RS e diretor-secretário da Ocergs, Paulo Pires, agradeceu a presença do público e destacou a importância do encontro para auxiliar na leitura e percepção de mercado. “O objetivo da apresentação é auxiliar vocês na leitura de mercado e, com base nessa informação e nessa análise, como vocês podem montar uma estratégia comercial respeitando os riscos e aproveitando as oportunidades que o mercado oferece”, disse Paulo Pires.

Para o consultor técnico da Safras Consultoria, Élcio Bento, a estimativa da safra de trigo 2017/18 no Rio Grande do Sul aponta para queda de 10% na área, com 710 mil hectares. Em relação a produtividade, a estimativa é de 1,92 milhões de toneladas, o que representa queda de 23% em relação ao ano passado. No cenário nacional, a previsão é de recuo de área em 10%, com 1,9 milhão de hectares, e de queda na produtividade em 17%, com 5,6 milhões de toneladas.

Bento explica que apesar da previsão indicar uma queda de área e de produtividade de trigo no Brasil, isso não significa que os preços terão alta. “Não há certeza disso, porque os preços no Brasil dependem exatamente de um tripé: mercado interno, mercado externo e o mercado de câmbio. Então esse primeiro tripé que dizer que vai ter menos trigo no Brasil, se tem menos trigo no Brasil a comercialização interna sente menos a pressão do final da safra, mas vale também nessa combinação do mercado externo e mercado cambial, que vai determinar exatamente o quanto o trigo importado vai chegar no Brasil. Se metade da nossa produção ou do nosso abastecimento vem de fora, claro que esses dois fatores acabam sendo até maiores do que esse terceiro fator para a formação de preço”, afirma Bento.

Na Argentina, as estimativas são de uma elevação de 6% sobre a área passada. “Tem um potencial de produção que pode chegar a 20 milhões de toneladas de trigo”, destaca Bento. No cenário global, a estimativa da produção 2017/18 é de 743 milhões de toneladas, uma redução de 12 milhões de toneladas, impactada por quedas no Canadá (5 milhões de toneladas), Austrália (12 milhões de toneladas) e principalmente Eua (15 milhões de toneladas).

Élcio Bento destaca que os preços internacionais estão sem espaço para grandes elevações, porém ressalta que o dólar continua sendo uma variável de incerteza. No Brasil, a previsão é de que os preços internos devem ser superiores à safra 2016/17 e inferiores à safra 2015/16.

Soja: Cenário e Tendências

Na sequência do evento, o consultor de soja da safra do mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, apresentou o cenário e as tendências da safra de soja. Roque disse que em cinco anos, os três maiores produtores de soja (Eua, Argentina e Brasil), que representam mais de 80% da produção mundial, aumentaram a produção em 96 milhões de toneladas. “A gente percebe o crescimento da produção mundial a partir de 2012. Já são cinco anos consecutivos de crescimento. Em 2011/12 nós tivemos uma safra de 240,3 milhões de toneladas no mundo e, em 2016/17, fechamos com uma safra de 351,7 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 46% na oferta mundial de soja”, destaca Roque.

O Brasil é o país que mais trouxe crescimento para a produção mundial de soja nos últimos cinco anos, com 45 milhões de toneladas, seguido por Estados Unidos, com 33 milhões de toneladas e Argentina, com 18 milhões de toneladas.

A demanda também cresceu nos últimos anos, o que se deve também ao crescimento de 68% das importações mundiais realizadas pela China nos últimos cinco anos, o que representa uma quantidade de aumento de 31,8 milhões de toneladas de soja importadas. Só na safra 2016/17, a China importou 91 milhões de toneladas de soja.

O estoque mundial de soja apresentou um crescimento de 82% nos últimos cinco anos. “Em 2011/12 tivemos estoque final de 53,3 milhões de toneladas no mundo, enquanto que na safra 2016/17 chegou a 97 milhões de toneladas, o que significa que sobra soja no mundo, principalmente a partir de 2014/15, quando ocorre um salto de estoque de mais de 15 milhões de toneladas em um ano”, comenta Bento.

Bento afirma que a safra potencial brasileira é de 113 milhões de toneladas, considerando produtividades regulares. “Está entrando uma supersafra americana e tem o potencial de entrar uma supersafra brasileira de novo este ano”, conclui.

Segundo o analista de safras Gil Barabach, é importante que o produtor pense na margem de lucro e não somente no preço. “Se eu tenho um custo baixo eu não preciso arriscar tanto. O preço de uma commodity tende no longo prazo ao custo de produção. É preciso gerir os riscos de preço, não dá para ficar passivo às flutuações do mercado”, explica o consutor.

“As exportações de soja no Brasil devem gerar uma receita de US$ 23,4 bilhões em 2017”, ressalta Barabach. Para ele, o dólar segue volátil, mas dentro de um intervalo mais curto de atuação, o que faz com que seja difícil apostar em um cenário de disparada do dólar no mercado financeiro. “A ideia é um dólar mais acomodado hoje, em torno de R$3,10 a R$3,20, e batendo no final deste ano e no começo do ano que vem entre R$3,20 e R$3,25, dependendo de algumas variáveis internas e externas”, conclui.

Participaram do evento o superintende técnico operacional do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Gerson Lauermann, o diretor executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Sérgio Feltraco, analistas técnicos do Sescoop/RS e produtores de trigo e soja do Rio Grande do Sul.