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Escoop promove 5ª edição do Dia da Consciência Negra

A Escoop promoveu, no dia 22 de novembro, a 5ª edição do Dia da Consciência Negra da instituição, com diversas palestras e discussões em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Com o tema “Intolerância, Convivência, Empatia: somos todos uma só raça”, o evento teve como objetivo promover uma reflexão sobre a contribuição, participação e inserção dos negros e negras na sociedade brasileira.

Na abertura, o acadêmico Tabajara Melo, apresentou a música “Sinfonia da Paz”, composta por Altay Veloso, no dia em que o líder sul-africano Nelson Mandela – símbolo da resistência contra o regime de segregação racial, foi solto após 27 anos de prisão.

Roda de conversa

Em seguida, a formanda em Relações Públicas na UFRGS, nascida na República Democrática do Congo na cidade de Kinshasa, Romita Abdala Nawez, falou sobre suas experiências desde que chegou em Porto Alegre para fazer intercâmbio, em 2013, além de comentar sobre a política e economia de seu país.

O doutorando em Administração da UFRGS, Tito Francisco Ianda, após contar a história de Guiné Bissau, seu país de origem, a situação dos negros e dos estrangeiros na África, a criação da união africana, a luta pela libertação africana no continente e no país, fez um paralelo com o Brasil, principalmente na questão da educação e cultura. E finalizou: “É muito importante promover eventos como esse para que as situações que os negros passam todos os dias não sejam esquecidas”.

 

Povos Tradicionais de Matriz Africana

Na sequência, o historiador, presidente da Cooperativa de Trabalho e Desenvolvimento dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (Cooptma-RS) e babalorixá (Autoridade Tradicional de Matriz Africana), Bàbá Omi Luciano de ÒSÀLÀ, ministrou a palestra “Povos Tradicionais de Matriz Africana: Identidade, memória e resistência na luta pela superação do racismo”. Ele discorreu sobre sua descendência, a história dos povos de matriz africana, de que forma a linguagem, a cultura, a visão de mundo se manteve ou modificou, intolerância religiosa, racismo, ancestralidade, dentre outros temas. Para ele, a intolerância religiosa é, além de racismo, uma negativa da identidade africana. “Como afirmou Mandela: Ninguém nasce racista, se torna racista. Somos ensinados por um sistema. O mesmo sistema que me tornou machista. Enquanto homem, em algum momento da minha vida eu sou machista pelo simples fato de ser homem. E negar isso é negar a minha possibilidade de transformação, de evolução (…) Precisamos resistir com a nossa cultura, nossa identidade e nossa memória para manter nosso direito de pertencer a um povo”.

Igualdade

Em seguida, a jornalista coordenadora do Núcleo de Jornalistas Afro Brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindijors), Jeanice Dias Ramos, discorreu sobre igualdade de raça e gênero, movimento feminista e as mulheres negras, bem como as bandeiras de lutas negras que não tem representatividade na política. Apresentou dados de pesquisas sobre a situação dos negros na economia brasileira, e sobre os feminicídios que, atualmente – conforme o Mapa de Violência 2015 – Homicídio de mulheres no Brasil – 54,2% são cometidos contra mulheres negras. E sobre a luta pela igualdade comentou: “Não podemos ficar presos ao passado. Nossos antepassados já sofreram, temos que dar passos para a frente, pois o momento é outro e temos que ter noção de contemporaneidade. Temos um papel muito importante de ocupar nossos espaços na política ou em qualquer lugar enquanto negros, enquanto mulheres negras”.

 

Desigualdade, racismo e democracia

Após a declamação do poema ” Me gritaram negra”, de autoria de Victoria Santa Cruz, pela acadêmica Alessandra Santos, o historiador e coordenador da assessoria pedagógica e relações Étnicas da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, Manoel José Ávila, palestrou sobre o tema “Desigualdade, racismo e democracia no Brasil: Uma questão permanente”. Ele falou sobre a história, conceito e experiências de racismoo que provoca a ideia do racismo, qual o caminho para enfrentá-lo e qual sua origem, bem como a origem da comemoração do Dia da Consciência Negra. “Não era possível, em certa época, falar de racismo no Brasil. Mas hoje sabemos que o genocídio da população negra no Brasil não é um mito. Ela está mais próxima de nós do que imaginamos e tem a ver com democracia, porque passa pelos direitos, pela manutenção e fortalecimento de políticas afirmativas”.

 

Intolerância Racial

Por fim, o ativista social e cultural e idealizador do Decreto 43.444 de novembro de 2004, que cria a Semana Estadual da Consciência Negra do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Clóvis André da Silva, fez a leitura de um artigo que escreveu sobre o tema da palestra – Intolerância Racial: Um desafio à convivência democrática. Ele defendeu que a convivência democrática necessita de um debate franco, dos compromissos que se deve assumir para mudar a realidade da intolerância racial e, nesse sentido, da importância de eventos como esse. “Não se muda um país apenas com a força das ideias. A nossa luta é de igualdade. Se ficarmos de braços cruzados, nada vai mudar. Está faltando união para enfrentar o preconceito, a desigualdade. Não temos que comemorar o Dia da Consciência Negra, porque não temos liberdade. Temos que acordar para a realidade. As políticas que foram feitas nas últimas décadas são um abismo social gigante. As leis precisam funcionar para modificar nossa vida, não serem apenas letras na constituição. Precisamos pautar a sociedade não só com textos superficiais. E sim com reflexões expressivas. Somos maioria na população, mas minoria da população que possui acesso aos serviços”, defendeu.

A professora da Escoop, Rosane Zimmer, encerrou a roda de conversa defendendo que a educação é a chave para trabalhar a resistência que foi abordada por todos os participantes.  “Mas, para trabalhar a resistência, precisamos trabalhá-la nos processos pedagógicos que vão desde a Educação Infantil ao Ensino Superior. Precisamos produzir gerações menos fóbicas, menos intolerantes e prestar mais atenção na necessidade das militâncias, principalmente das mulheres negras”.

O evento encerrou com uma homenagem do acadêmico Florindo Leonir da Silva Homem, uma exposição de artesanato da Cooptma – Rede Ubunto de Cooperação Solidária e coquetel temático.