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Copercicla é modelo na reciclagem

Todas as etapas do gerenciamento de resíduos sólidos previstas pela política nacional do setor são realizadas por uma cooperativa de recicladores na zona rural de Santa Cecília do Sul, município com menos de 2 mil habitantes na região Norte do Estado, a 300 quilômetros de Porto Alegre. Isso contempla coleta, transporte, triagem, destinação dos recicláveis, compostagem de orgânicos, transbordo do rejeito a aterro sanitário e disposição de parte do rejeito em aterro próprio. O trabalho com o que é descartado como lixo e a venda do que pode ser reaproveitado começou há mais de duas décadas na comunidade de Vista Alegre, a partir de uma associação de trabalhadores rurais que atendia um consórcio de municípios.

Ao longo dos anos, a Copercicla – Cooperativa de Trabalho dos Recicladores de Resíduos Orgânicos e Inorgânicos de Santa Cecília do Sul – conquistou independência em relação ao poder público e se consolidou. A expansão do atendimento ganhou impulso há cinco anos diante de uma dificuldade: a perda do contrato que tinha com Tapejara, maior município da região e na época responsável por 65% da demanda de trabalho na unidade. “Ao invés de inviabilizar o serviço, partimos em busca de alternativas para manter o funcionamento”, lembra Cristian José Vidal, cooperado e auxiliar administrativo.

Até então, os recicladores atendiam dez municípios e faziam a coleta em sete destes. Mensalmente chegavam à unidade 630 toneladas de resíduos. Hoje, a capacidade dobrou: a Copercicla atende 20 municípios e em 15 destes faz a coleta (inclusive Tapejara, com a recuperação do contrato). Além disso, recebe cargas de empresas da região. A central e outras duas unidades, nas cidades de Maximiliano de Almeida e Sananduva, recebem 1.250 toneladas mensais de resíduos. “A coleta é um divisor de águas. Se trabalhar só com a reciclagem, fica refém dos municípios e não consegue expandir”, aponta Mateus Luiz Vidal, cooperado e tesoureiro. Contribuiu para o crescimento o fim do atendimento aos municípios de forma consorciada. Agora os contratos são firmados com cada prefeitura, na maioria a partir de licitação (embora nestes casos a lei permita a dispensa para contratar cooperativas de catadores). Ao gerenciar o próprio recurso, não depende mais do aval de todos os integrantes do consórcio, como era antes, para realizar algum conserto ou a aquisição de equipamentos – ou seja, reduz o tempo parado e não perde produtividade. “Hoje a relação é de independência. O motivo do insucesso de muitos municípios que começaram com o mesmo modelo é a dependência direta do poder público”, aponta o prefeito de Santa Cecília do Sul, João Sirineu Pelissaro. Tecnólogo em Cooperativismo, o gestor já atuou na área de projetos da Copercicla e destaca que essa autonomia permitiu à Cooperativa se candidatar a financiamentos para a expansão da área, construção de novos galpões e compra de mais caminhões para a coleta, por exemplo.

“A questão legal é importante para o município que quer que as cooperativas cresçam e aconteçam. De 2009 a 2016 havia muito recurso a fundo perdido e a legalidade da cooperativa foi importante para estar habilitada a receber”, destaca Pelissaro. Com o registro de 132 cooperados na assembleia mais recente, a Copercicla é a maior geradora de postos de trabalho da cidade, com mão de obra da região, além de ser o maior ISS do município.

Fonte: Jornal do Comércio