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CRA cria novo mercado de oportunidades para as cooperativas agro

Com expansão do agronegócio, novas ferramentas de crédito são necessárias – e o CRA vem ganhando espaço neste cenário

Nos últimos anos, o Brasil reafirmou a sua presença no agronegócio mundial. Atualmente, o país ocupa a quarta posição no ranking mundial, com exportações de produtos agropecuários que ultrapassam a marca de USD 100,7 bilhões, ficando atrás apenas da União Europeia, Estados Unidos e China. No cenário interno, o agro chegou à marca de 26,6% de participação no PIB em 2020. 

Sendo um setor que se expande a cada dia, ter investimento igualmente em crescimento é de suma importância. Com isso, nos últimos anos o cenário de crédito rural se modificou, trazendo novos produtos. Um deles é o CRA, que tem se popularizado nos últimos meses. 

Uma introdução ao CRA 

No mundo dos investimentos, o CRA já é bem conhecido. Mas fora dele, várias dúvidas ainda pairam sob as mentes do público. O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é um tipo de investimento atrelado ao setor agropecuário. São eles, títulos de renda fixa, onde o investidor – ao adquirir o CRA – contribui indiretamente para a compra de insumos, maquinários e outros produtos necessários para o setor. 

A partir de um amplo trabalho de sua equipe financeira, a Cotribá foi a cooperativa pioneira na emissão do primeiro CRA de forma 100% digital, no final de 2020. Após o sucesso das duas primeiras operações financeiras, que já beneficiaram 247 produtores com R$ 118 milhões em recursos, a Cotribá participou como investidora na terceira emissão do CRA aos associados da Cooperativa, o que contribuiu para a redução da taxa de juros do CRA, que ficou na média em CDI + 0,74% a.a. aos produtores.

“Com todo o trabalho desenvolvido para a emissão do CRA, temos reforçado o compromisso de fortalecer o agronegócio, apoiar o desenvolvimento das atividades dos nossos associados e das comunidades onde atuamos. Onde tem agricultura forte, tem-se emprego e renda”, reforça o presidente Celso Leomar Krug.

Tratando-se de um título ligado ao agronegócio, as cooperativas já estão antenadas neste novo produto. Recentemente, o CRA garantido pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) teve o envolvimento da Integrada Cooperativa Agroindustrial. 

Para Alfredo Freire Neto, Gerente Financeiro da Integrada Cooperativa Agroindustrial, a parceria é um importante passo para a cooperativa, e está diretamente ligado à missão da coop. “[O CRA com o BRDE] representa o espírito de inovação que a Integrada vem trabalhando em diversas áreas, buscando sempre trazer cada vez mais eficiência e benefícios aos cooperados e clientes. A operação abre uma nova fonte de financiamento. Tradicionalmente, são utilizadas as linhas do Crédito Rural e o financiamento via Bancos. No entanto, com o crescimento do agro e o aumento nos preços das commodities e dos insumos, o setor requer outras alternativas”, ele afirma. 

Impactos no agro 

Apesar de não se tratar de uma novidade para as cooperativas agro (em abril o MAPA anunciou o CRA garantido pelo BNDES, em parceria com a Cotrijal), os impactos a serem sentidos pelo setor ainda estão no começo. “Para o cooperativismo, o acesso ao mercado de capitais, seja via CRA ou outros instrumentos, significa menor dependência de recursos governamentais e de Bancos. Além disso, aproxima o investidor do mundo do cooperativismo. Nesse sentido, temos que ressaltar que o cooperativismo tem em seus princípios – e já exerce a muito tempo – práticas socioambientais e de governança, que são tão valorizadas pelos investidores atualmente”, destaca Neto. 

Além de desenvolvimento para as cooperativas, a popularização do CRA é um importante momento para o cenário macro do agronegócio brasileiro. Com uma expansão acelerada, o temor pela falta de crédito no mercado é uma realidade, a produtos como o CRA surgem com o objetivo de atender à demanda atual, que espera-se, deve aumentar nos próximos anos. 

Neto descreve o CRA como um elemento indispensável para o cenário agro nos próximos, sendo inclusive um garantidor do financiamento da produção nacional. “Estudos da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) estimam que o custo total de uma safra agrícola no Brasil gira em torno de R$ 1 trilhão e o Plano Safra ofertou apenas um quarto do valor nesse ciclo 21/22. Ou seja, é inevitável ao setor ter que recorrer ao crédito privado, seja de instituições financeiras ou do mercado de capitais. Ambos os segmentos vêm crescendo, mas o último em ritmo mais acelerado. Somando-se a isso, o investidor do mercado de capitais está cada vez mais interessado no setor agro”, ressalta. 

Perspectivas para o futuro 

Estamos vivendo um período de transição. E mesmo com as recentes notícias acerca da pandemia, a previsão é para uma retomada econômica mais forte em 2022. Não apenas espera-se que o PIB nacional lentamente se recuperar, mas também que o setor agro expanda ainda mais a sua produção, que mesmo na crise conseguiu resultados excepcionais. 

Neste cenário, ter crédito para “bancar” as operações esperadas, será essencial. E o CRA, assim como outras modalidades de crédito para o setor, terão um papel de protagonismo na retomada do setor. Com a expansão do agronegócio, o crédito público deixou de suportar a demanda, e cada vez o setor privado se tornará essencial para essas operações. Neste contexto, o CRA possui um futuro brilhante, e junto a ele, as cooperativas também. Para o gerente financeiro da Integrada, está uma constatação que não mudará nos próximos meses. 

“Na visão da Integrada, o agro cooperativo deve seguir a tendência do setor privado, com a elevação das exposições a títulos de dívida em relação ao crédito bancário. Assim, as cooperativas precisam se preparar para explicar o setor a um novo público: investidores que muitas vezes não estão tão próximos do dia a dia do agro. Outra possibilidade que deve ser observada é a participação dos cooperados como investidores do CRA, o que faz bastante sentido do ponto de vista cooperativo, e também é onde as cooperativas têm uma vantagem competitiva em relação ao setor privado”, conclui. 

Fonte com com informações da revista MundoCoop