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Faturamento das cooperativas agropecuárias cresceu 20% em 2022

As 1.185 cooperativas do setor agropecuário tiveram ingressos — termo utilizado para se referir ao faturamento — de R$ 429,9 bilhões no fim do ano passado, aumento de quase 20% em relação aos valores de 2021, segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2023, publicado na última semana pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

O valor representa mais de 65% da movimentação financeira de todas as cooperativas, de R$ 655,8 bilhões, incluindo áreas como crédito, transporte, saúde e consumo. São mais de um milhão de cooperados no setor agropecuário. O número geral de cooperativistas no país passa de 20 milhões, quase 10% da população brasileira. Essas cooperativas pagaram R$ 8,9 bilhões em salários e benefícios aos funcionários e foram responsáveis pelo recolhimento de R$ 13,9 bilhões em impostos em 2022.

O ativo total das cooperativas do campo tem crescido a passos largos. O indicador mais que dobrou em três anos, saindo de R$ 132,2 bilhões em 2019 para R$ 266,5 bilhões no ano passado. O capital social das cooperativas agropecuárias chegou a R$ 22 bilhões e as sobras distribuídas aos cooperados, ou seja, o lucro dessas empresas, bateu a marca de R$ 22,5 bilhões em 2022, apesar dos solavancos enfrentados no setor por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia e a oscilação de preços de commodities e insumos.

O ramo agropecuário é o que mais emprega entre as cooperativas brasileiras. O número de empregos diretos gerados nesse segmento ficou perto de 250 mil no fim de 2022, quase a metade dos 524 mil funcionários que o sistema cooperativista tem no país como um todo. Paraná é o Estado que mais gera postos de trabalhos em cooperativas do agro (107,2 mil), enquanto o Rio Grande do Sul lidera o ranking de número de cooperados (259,6 mil). Minas Gerais tem mais cooperativas: 198.

Segundo o Anuário do Cooperativismo da OCB, a atuação das cooperativas do ramo agropecuário está distribuída em sete segmentos: insumos e bens de fornecimento (65%), produtos industrializados de origem animal (58%), produtos industrializados de origem vegetal (34%), produtos não industrializados de origem animal (27%), produtos não industrializados de origem vegetal (17%), serviços (32%) e escolas técnicas (3%). A soma passa de 100% por que a mesma cooperativa pode atuar em mais de um segmento.

Outro destaque é a intercooperação com outros segmentos: 49% das cooperativas agropecuárias fizeram negócios com cooperativas de crédito no ano passado, 10% delas adquiriram produtos ou serviços de cooperativas de trabalho, 12% utilizaram serviços de cooperativas de transporte e 21% utilizaram planos de saúde de cooperativas de saúde.

Números do RS

O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com maior número de pessoas associadas. Nas informações segmentadas, no ramo agro tem, no Rio Grande do Sul, 95 cooperativas, 259.646 cooperados e 33.077 empregados.

Segundo dados da Expressão do Cooperativismo Gaúcho – ano base 2022, o ramo agropecuário impulsionou o crescimento do setor – as cooperativas do agro registraram um faturamento de R$ 52 bilhões em 2022, o que representa 63,5% do total dos sete ramos de cooperativismo no Rio Grande do Sul: agropecuário, crédito, saúde, infraestrutura, transporte, trabalho, produção de bens e serviços, e consumo. Já as sobras correspondem a 26,6% do total dos ramos.

Resiliência do setor

O presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, disse que os dados reforçam a resiliência desse sistema de negócios. “As cooperativas agropecuárias cresceram em um ambiente desafiador, enquanto o setor em que estão inseridas encolheu”, disse. O número de cooperativas no país caiu de 4.880 em 2021 para 4.693 no fim de 2022.

Rodrigo Casagrande, professor convidado da FGV, disse que as cooperativas agropecuárias vão manter o ritmo de crescimento nos próximos anos puxadas pela demanda alimentar mundial. “O pequeno produtor rural cooperado é quem coloca alimentos em nossas casas”, afirmou.

Roberto Marchelli, professor de Cooperativismo em MBAs do Pecege/Esalq-USP, afirmou que grande parte das cooperativas têm uma “musculatura contábil”, com reservas financeiras volumosas nos patrimônios líquidos, que dão segurança aos negócios – o que é um diferencial no setor. Ele apontou desafios na sucessão e na profissionalização da gestão para o futuro.

“Os gestores estão entendendo que a cooperativa surgiu para resolver os problemas do cooperado. Muito além de colocar o produto dele no mercado, é como posso auxiliá-lo para ter perenidade, manter o crescimento dos negócios, gerar educação para as pessoas ao seu redor”, indicou.

Álvaro Tosetto, consultor de Agronegócios, disse que há espaço para maior intercooperação entre as cooperativas agropecuárias, principalmente entre as pequenas, para gerar escala aos seus produtos e melhorias nos custos e na logística.

Fonte: Globo Rural